Escalada de acidentes aéreos desafia setor de seguros

Luiz Eduardo Moreira

O aumento no número de acidentes aéreos tem preocupado autoridades e companhias. Segundo dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa),  44 foram fatais no Brasil no último ano, um acréscimo de 47% em relação aos 30 casos de 2023.

Igualmente, o panorama global reforça essa tendência. Em janeiro, uma aeronave da American Airlines colidiu com um helicóptero do Exército dos EUA, deixando 67 mortos. Já no início desta semana, um voo da Delta Air Lines precisou realizar um pouso forçado em Toronto. No Brasil, apenas nos primeiros 38 dias do ano, vinte ocorrências foram registradas, sendo cinco fatais.

Além do impacto na vida das pessoas e nas operações, a escalada no número de sinistros também exerce uma pressão significativa sobre o setor segurador, que se vê desafiado a encontrar formas de proteção contra os crescentes prejuízos.

Reação do âmbito securitário

Segundo Luiz Eduardo Moreira, CEO da Vokan Seguros, a alta nos acidentes impacta toda a cadeia seguradora, especialmente as resseguradoras, responsáveis por absorver a maioria do risco financeiro.

“A realidade hoje é que as seguradoras, não só nos riscos aeronáuticos, mas em diversos outros segmentos, são resseguradas. Elas adquirem proteção de resseguro. No fim do dia, emitem a apólice, mas o risco que estão assumindo é sempre muito pequeno. Dessa forma, seguradoras e resseguradoras assumem uma pequena parte do risco  a fim de minimizar eventuais prejuízos. No entanto, ao redor do mundo estão sendo impactadas, especialmente no aero. As resseguradoras foram severamente afetadas pela guerra entre Ucrânia e Rússia, cujo impacto financeiro é estimado em aproximadamente US$ 25 bilhões.”

No território brasileiro, os reflexos já aparecem nos números. No ano passado, as seguradoras desembolsaram quase R$950 milhões em indenizações. O valor, atualizado recentemente, já supera US$1 bilhão, conforme dados da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

“Em 2023 e 2022, os valores ficaram na casa dos US$400 milhões. O aumento em 2024 é significativo”, explica Moreira.

 O custo das apólices deve aumentar?

Embora não gere, de imediato, um reajuste automático nos valores das apólices, a tendência é que o mercado passe por adaptações.

“Não se trata de um aumento direto no custo, mas sim no volume de indenizações pagas, o que pode gerar reajustes. O mercado é dinâmico e sofre influência global. O resseguro, portanto, define os preços do mercado periodicamente e considerando eventos mundiais que afetam suas carteiras”, aponta.

O CEO da Vokan também destaca que o conflito entre Rússia e Ucrânia já impactou uma das coberturas essenciais da aviação, conhecida como Cobertura Guerra, que protege contra sequestro, confisco e ataques.

“Com a guerra em curso, a taxa dessa cobertura aumentou, o que influencia os custos gerais do seguro aeronáutico.”

Risco de restrições

Apesar da alta nos acidentes, por enquanto, não há sinais de dificuldades na renovação de contratos ou na concessão de novas apólices.

“As seguradoras seguem operando dentro dos contratos de resseguro vigentes, reajustados anualmente. Em momentos de grande sinistralidade, como ocorreu entre 2013 e 2014, o panorama passou por ajustes nos anos seguintes, com algumas seguradoras até deixando o segmento. Mas, nos últimos anos, o setor estabilizou.”

Principais coberturas disponíveis

O mercado de seguros aeronáuticos oferece diferentes tipos de cobertura, que variam conforme a necessidade dos clientes. Entre as principais opções estão:

RETA (Responsabilidade Civil do Transportador Aéreo) – Seguro obrigatório para todas as aeronaves operando no Brasil. Funciona como um DPVAT da aviação, com indenizações fixas de aproximadamente R$ 107 mil por assento e R$ 110 mil para danos a terceiros no solo.

Seguro Casco – Protege a aeronave contra danos físicos. Não é obrigatório, mas essencial para quem deseja cobrir prejuízos causados por acidentes.

LUC (Limite Único Combinado) – Seguro de responsabilidade civil para terceiros, semelhante ao RETA, mas com limites personalizáveis. Algumas apólices para jatos executivos podem alcançar valores de até US$ 500 milhões.

O Que Esperar?

Tem se inserido critérios mais severos relativos à competência dos pilotos, estabelecendo um número considerável de horas de voo como pré-requisito. Entretanto, essa condição nem sempre reflete a realidade da aviação nacional, uma vez que existe um número crescente de aeronaves e vários pilotos ainda carecem de treinamento para operá-las adequadamente.

Especialistas reforçam que a contratação de um seguro adequado é fundamental para garantir proteção financeira diante de incidentes que, como mostram os números recentes, estão sendo frequentes.

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Fernanda Torres

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Bruna Nogueira