A busca por uma economia resiliente e de baixo carbono tem sido cada vez mais debatida, com destaque para o papel das inovações climáticas, das soluções baseadas na natureza e dos investimentos sustentáveis na aceleração da transição verde. Neste sentido, o setor de seguros tem importante contribuição nesse ecossistema. Este foi o mote das discussões da manhã desta terça-feira (11) na Casa do Seguro, espaço da CNseg na COP30, durante debates promovidos pela AXA.
No primeiro painel, os especialistas destacaram como inovação, ciência e proteção financeira podem se unir para acelerar a descarbonização e reduzir riscos ambientais. O encontro reuniu o mediador Chaouki Boutharouite, head of Sustainability da Axa International Markets; Alexandre Mansur, diretor de Projetos do O Mundo Que Queremos; Daniel Contrucci, cofundador e co-CEO da Climate Adventure; Fernanda Gomes, gerente de Gestão do Conhecimento e Comunicação do Instituto Internacional para a Sustentabilidade; e Rogério Paiva Cavalcanti, presidente do Conselho do UMGRAUEMEIO. Em comum, todos defenderam que a transição para uma economia regenerativa depende da integração entre tecnologia, biotecnologia, políticas públicas e seguros.
Papel do setor
O empreendedor Daniel Contrucci destacou que o Brasil possui um papel central na descarbonização global, com dois terços das emissões ligadas ao uso da terra e ao agronegócio. Ele apresentou mais de 1.500 soluções mapeadas pela Climate Ventures, desde inovações tecnológicas em inteligência artificial e sensores até práticas ancestrais das comunidades tradicionais. Para Contrucci, “não há uma única organização capaz de resolver o problema climático, porque precisamos de coordenação sistêmica e investimentos em bioeconomia e soluções baseadas na natureza”.
Ele defendeu ainda a ampliação do papel dos seguros, especialmente em modelos de negócio inovadores que promovem restauração florestal e integração entre lavoura, pecuária e floresta.
Fernanda Gomes reforçou que as soluções baseadas na natureza devem ser vistas de forma holística, combinando dados sobre uso da terra, vulnerabilidade social e retorno financeiro. Ela apresentou um framework desenvolvido para o setor segurador identificar áreas prioritárias de investimento em restauração ambiental, “maximizando benefícios ecológicos e reduzindo riscos de enchentes e perdas costeiras”. Segundo ela, a transição verde só será bem-sucedida se houver cocriação entre ciência, governo e setor privado, garantindo legitimidade, precisão e aplicabilidade.
Tecnologia como aliada
Um exemplo concreto de inovação climática foi apresentado por Rogério Paiva Cavalcante. Sua startup (UMGRAUEMEIO) desenvolveu uma tecnologia capaz de detectar incêndios florestais em até três minutos, utilizando câmeras de alta resolução e inteligência artificial. Hoje, o sistema monitora 20 milhões de hectares no Brasil, reduzindo perdas em até 80% nas áreas agrícolas. Ele chamou atenção para a necessidade de o setor segurador “olhar para novas modalidades de seguro que considerem não apenas o carbono, mas também a biodiversidade”. Rogério propôs que as seguradoras se tornem parceiras das tecnologias emergentes, ajudando-as a escalar soluções de prevenção de riscos climáticos.
Coube a Alexandre Mansur apresentar o Radar Verde, metodologia que ranqueia frigoríficos e redes de supermercados com base em critérios de desmatamento e rastreabilidade da cadeia de carne. A iniciativa já é usada por investidores e empresas para monitorar riscos e premiar boas práticas ambientais. Segundo Mansur, “as seguradoras, como grandes investidoras globais, têm poder para influenciar cadeias produtivas, evitando emissões e priorizando companhias mais responsáveis”.
Cooperação e inovação devem estar unidas
De certa forma, esse painel evidenciou que a transição climática não se fará apenas com tecnologia, mas com cooperação intersetorial e inovação financeira. As seguradoras foram apontadas como peças-chave para destravar investimentos em soluções verdes, fornecendo instrumentos de mitigação de risco para novos modelos produtivos e para a restauração de ecossistemas. Os especialistas convergiram na ideia de que tecnologia, ciência e seguros precisam caminhar juntos: os dados e a inteligência artificial tornam visíveis os riscos; as políticas públicas dão legitimidade às ações; e o setor segurador garante estabilidade e confiança para o capital fluir. Como resumiu o moderador, ainda há um longo caminho até o Net-Zero, a começar dos investimentos necessários, mas o encontro mostrou que a ponte entre inovação e proteção já começou a ser construída.
Seguros que protegem a natureza e as pessoas
O segundo painel mostrou como a proteção ambiental e a adaptação climática estão se tornando temas centrais para o setor segurador. Mediado por Melina Cotlar (AXA), o debate reuniu o cientista Paulo Artaxo (IPCC), Michael Beck (AXA Chair in Coastal Climate Resilience), Érico Rocha (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Patricia Ellen (Aya Earth Partners e Systemic), relacionando ciência, políticas públicas e inovação em torno de um objetivo comum: transformar o seguro em um motor de resiliência climática.
Desafio urgente e diverso
O cientista Paulo Artaxo lembrou que a adaptação às mudanças climáticas é um desafio urgente e diverso, acrescentando que, em virtude disso, o Brasil precisa de estratégias regionalizadas, capazes de responder às vulnerabilidades específicas do Nordeste, da Amazônia e do Sul. Ele ressaltou que a ciência deve orientar políticas públicas que priorizem a população, e não apenas setores econômicos. “O clima já mudou e continuará mudando. Adaptação é para hoje”, afirmou, destacando que o setor de seguros, o agronegócio e a saúde estão entre os mais vulneráveis aos impactos climáticos. Para ele, o país deve avançar na criação de planos de contingência e instrumentos de proteção econômica baseados em evidências científicas.
Entre os setores mais expostos, ele enumerou o mercado de seguros aparece como um dos mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos.
“A indústria do seguro é, sem dúvida, uma das mais impactadas pelas mudanças climáticas, mas não é a única. O agronegócio enfrenta a redução da precipitação no Brasil Central, o que compromete a rentabilidade e a previsibilidade — fatores críticos também para o seguro agrícola”, destacou o especialista. A preocupação se estende aos seguros de vida e saúde, já que o aumento das temperaturas, a proliferação de vetores e a insegurança alimentar tendem a afetar diretamente a saúde da população.
Coberturas inovadoras
Michael Beck, por sua vez, apresentou um exemplo emblemático de inovação: o seguro de recifes de corais criado no México, uma iniciativa pioneira que atribui valor econômico à natureza ao reconhecer seu papel como “barreira natural” contra tempestades e enchentes. Beck mostrou como o modelo combina ciência, modelagem de risco e investimento em restauração ambiental, transformando ecossistemas em ativos de proteção. “Podemos calcular o valor dos benefícios ecológicos e sociais e transformá-los em instrumentos financeiros, como créditos de adaptação”, explicou. A experiência, segundo ele, abre caminho para produtos que conciliem retorno financeiro e preservação ambiental.
As políticas climáticas sólidas são essenciais para induzir o setor privado a adotar práticas sustentáveis, conforme destacou Érico Rocha. Ele apresentou o Plano Clima, lançado pelo governo brasileiro, como um exemplo de instrumento estratégico que orienta a mitigação e a adaptação nos diferentes setores da economia. Rocha propôs que as seguradoras possam oferecer descontos nas apólices para produtores que mantenham excedentes de vegetação nativa, uma vez que “a floresta em pé reduz a sinistralidade, melhora a produtividade agrícola e protege contra desastres”. A integração entre políticas de crédito e seguro, segundo ele, pode se tornar um poderoso incentivo à conservação.
Patricia Ellen trouxe a visão da inovação e da economia verde. Ela destacou que a adaptação climática ganhou centralidade na COP30, com discussões sobre o financiamento de um fundo de US$ 300 bilhões para países emergentes — ainda abaixo do necessário, que seria de pelo menos US$ 350 bilhões. Patricia alertou para o grande “gap de proteção”: apenas um terço das perdas climáticas globais é coberto por seguros, deixando cerca de US$ 250 bilhões anuais descobertos. Defendeu, por isso, a ampliação das parcerias público-privadas (PPPs) e apresentou exemplos de inovação verde no Brasil, como os sistemas agroflorestais com macaúba e cacau, que aliam produção, reflorestamento e geração de bioenergia. “Essas cadeias podem dobrar o PIB verde do país, mostrando que proteger, produzir e incluir é possível”, afirmou.
A união entre ciência, negócios e políticas públicas, considerou Michael Beck, pode garantir novos mercados para créditos de adaptação, valorizando ações que reduzem riscos climáticos e protegem comunidades. “Quando reunimos diferentes vozes — ciência, governo, empresas — conseguimos transformar desafios em oportunidades concretas de proteção”, resumiu a moderadora Melina Cotlar.
Nesse sentido, ficou evidente que a natureza é o primeiro agente segurador do planeta. Fortalecer ecossistemas é também fortalecer economias e pessoas. A transição de uma lógica de risco para uma lógica de resiliência passa pela ciência, pela inovação financeira e pela atuação conjunta entre Estado, empresas e sociedade. Na visão dos participantes, o futuro do seguro será medido não apenas em indenizações pagas, mas em vidas e ecossistemas preservados.
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