Estudo aponta estagnação na presença feminina nas lideranças do setor de seguros

Quinta edição da pesquisa promovida pela Escola de Negócios e Seguros e Sou Segura revela que, apesar de serem maioria no setor, mulheres ainda ocupam poucos cargos de comando

A Escola de Negócios e Seguros (ENS), em parceria com a Sou Segura e com apoio da Fenacor e da CNseg, apresentou nesta semana, em São Paulo, os resultados da 5ª edição do estudo “Mulheres no Mercado de Seguros”. Com uma amostra de 25 mil colaboradores de 19 seguradoras e participação recorde de 635 mulheres na etapa qualitativa, a pesquisa se consolida como referência ao mapear a presença feminina no setor e refletir sobre os desafios rumo à equidade de gênero.

Apesar de as mulheres representarem 55% da força de trabalho do mercado segurador há mais de duas décadas, a presença delas nos cargos executivos continua desproporcional: 71% dos profissionais em nível C-level são homens, contra apenas 29% de mulheres. A desigualdade também se manifesta nos cargos de gerência (61% homens e 39% mulheres), enquanto a equidade começa a despontar em posições de coordenação e supervisão, com equilíbrio próximo entre os gêneros.

Esses dados nos mostram que, embora as mulheres sejam maioria, o avanço nos cargos de decisão ainda é lento. A fotografia do mercado em 2024 revela estabilidade, mas não evolução”, pontuou Maria Helena Monteiro, diretora de ensino técnico da ENS e coordenadora do estudo desde sua primeira edição, em 2012.

 

Desigualdade salarial persiste

O levantamento também aponta que as mulheres continuam recebendo, em média, 30% menos que os homens: R$ 6.800 contra R$ 9.700, mesmo apresentando níveis semelhantes de escolaridade e qualificação. “A diferença não decorre de tabelas salariais discriminatórias, mas sim de uma combinação de fatores culturais, sociais e estruturais que dificultam a ascensão das mulheres”, explicou Maria Helena.

Um desses fatores é a sobrecarga feminina: 37% das respondentes relataram viver uma dupla ou tripla jornada, dividindo-se entre trabalho, cuidados familiares e estudos. O dado, considerado subestimado por especialistas presentes no evento, se conecta a outro alerta: 64% das licenças médicas por transtornos mentais em 2024 foram de mulheres, segundo dados do Ministério da Previdência.

 

O impacto da maternidade e a falta de políticas efetivas

Outro desafio apontado é o impacto da maternidade na carreira. A edição de 2024 não contou com dados atualizados sobre o retorno ao trabalho após a licença-maternidade, mas os números de 2020 ainda ilustram o cenário: apenas 86% das mulheres retornam ao trabalho, e 65% permanecem nas empresas após um ano. “É um retrato preocupante. A falta de políticas mais robustas para apoiar as mães pode estar fazendo o mercado perder talentos valiosos”, alertou Liliana Caldeira, presidente da Sou Segura.

Apesar dos desafios, o estudo traz boas notícias: 74% das seguradoras afirmam ter políticas de equidade de gênero, um salto importante na comparação com edições anteriores. “É preciso reconhecer esse avanço, mas também admitir que ainda falta impacto real nos resultados”, pontuou Liliana.

 

Depoimentos revelam barreiras e potenciais

A pesquisa qualitativa reuniu depoimentos de centenas de mulheres que atuam no setor. Muitas relataram dificuldades para ascender profissionalmente, apesar da qualificação técnica. Termos como “síndrome da impostora”, desvalorização em reuniões comerciais, e invisibilidade diante de pares masculinos foram recorrentes. “É um material riquíssimo, emocionalmente forte e que precisa ser valorizado. Essas vozes não podem ficar guardadas em uma planilha de Excel”, afirmou o economista Francisco Galiza, coautor do estudo.

 

Propostas concretas: meta de equidade no PDMS

Uma das principais sugestões do evento veio do próprio Galiza, que propôs incluir metas de equidade de gênero no Programa de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PDMS), coordenado pela CNseg. “Se temos metas de vacinação, de desmatamento, por que não metas de igualdade de gênero? Proponho que, até 2030, a proporção de homens para mulheres no C-level caia de 2,5 para 1,5. E até 2035, que tenhamos paridade total”, defendeu.

A ideia foi bem recebida por representantes do mercado, incluindo a FENACOR, que se comprometeu a levar a pauta adiante.

O evento também discutiu a invisibilidade do trabalho de cuidado — exercido majoritariamente por mulheres — e o envelhecimento da população brasileira, alertando para o impacto desproporcional desses fenômenos na vida feminina. “Estamos criando um país de velhos sem políticas públicas de cuidado. Quem vai cuidar? Essa responsabilidade vai, de novo, recair sobre as mulheres?”, questionou Maria Helena.

Na visão das especialistas, o mercado de seguros é, sim, um espaço com grande potencial para as mulheres — mas ainda carregado de viés inconsciente, falta de representatividade e cobranças desiguais.

A pesquisa completa pode ser acessada no site oficial da ENS, em formato digital. São mais de 50 páginas com dados, análises e depoimentos, que servem como importante instrumento para transformar o setor em um ambiente mais diverso e lucrativo.

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Divulgação ENS

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Julia Senna

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