Uma Santíssima Trindade gaudéria, entre deuses e demônios na terra do frio

Confira artigo do advogado sócio fundador e diretor da CJosias & Ferrer Advogados Associados, Carlos Josias Menna de Oliveira.

O peão, homem do campo, do trabalho rural, trabalhador mais humilde e serviçal, não se entrega e como diz a canção do meio “se precisa enfrenta a morte não liga pra tempo ruim”.

Um valente aventureiro que se atira louca e corajosamente ao trabalho que lhe for confiado, e, por isto mesmo, mais que leal e lutador, é um desbravador, não teme nem o desconhecido, não há tempestade, raio, trovão ou ventania que o derrube – ao contrário, se delicia com o desafio.

Quando se diz “está um frio de renguear o peão” – acredite, não queira saber como é.

O homem do campo é um bravo.

Amanhecer 3, 5 ou menos graus tem sido comum, e, claro, diz com temperatura baixa em qualquer do lugar do planeta, mas, creia, no “pampa” e no interior é muito diferente das ruas da selva de pedra, e seus prédios abastecidos por calefação e, neste rol, alcança o morador da capital, sim, também.

Pois morador da Porto, já nem tão alegre assim, e mesmo tendo nascido na portuária Rio Grande, fria por natureza, mas aqui desde muito pequeno – mal tinha oito anos quando cheguei, cometi o desatino de aceitar convite e acompanhar meu sócio para assistir um jogo de futebol na sua terra natal, Bagé e do seu Guarany.

Pois me fui alegre e faceiro até pensando em experimentar a “parrilla” famosa da fronteira. O jogo em si, estádio cheio, até não me impressionou muito com o tempo, mas depois da churrascaria quentinha pelo fogo e brasa do ambiente, ao iniciar a madrugada, chegou a hora de alcançar a rua para dormir no hotel. No terceiro passo fiquei imobilizado. Pobre Alasca. Por um instante, paralisado, pensei cairiam o lóbulo da orelha e a ponta do nariz.

Imagina no interior do mato ou no campo da fazenda.

A resistência do habitante da terra é admirável não para ele que nasceu, cresceu e se formou amando o solo que lhe dá o sustento, mas, sim, assusta o estrangeiro. E naquele chão sim, eu era estrangeiro.

O peão às 4 horas já está a cavalo percorrendo o campo, com frio de rachar a chincha (travessão usado para prender e fixar a sela ao cavalo) se cobre com o poncho – uma espécie pesada de cobertor de lã que abriga todo o corpo para proteger do frio – a chincha não racha nem com paulada do martelo do Thor – trabalha em condições quase inacreditáveis – sem fone de ouvido, mas sempre com um sorriso largo e um infinito ar de felicidade que quem não conhece não acredita ou pensa que é deboche.

Tchê, não te fresqueia no Rio Grande.

Como diriam meus amigos paulistas: então !?

Então, o Estado tem sofrido tanto com enchente, vendaval, ciclone, furacão e similares que até o peão anda com o sorriso amarelo – não há facetas para isto – e vez que outra abaixa a cabeça. Anda meio aborrecido e achando que andou desagradando o Patrão lá de Cima.

Longe do campo, Porto Alegre, a capital, experimenta, em curta metragem, ´revival` de um ano atrás, real, com ruas alagadas e invasão das águas em prédios residenciais e comércio, nos mesmos locais, com a quietude das mesmas ineficientes autoridades públicas, reeleitas, por sinal, aparentemente diante da escassez de lideranças políticas que não se renovam e se repetem viciosamente no poder com imensa capacidade e memória para lembrar e repetir os mesmos erros numa espantosa e gravemente culposa inoperância, incentivo cruel, muito provavelmente, da impunidade.

Faz, talvez, 40 dias que da sacada da minha residência contemplava um Guaíba majestoso, na companhia da minha esposa, quando, repentinamente, vislumbramos, não menos gigante, algumas centenas de metros à nossa frente, imagem que viralizou, da formação de um “cone” de vento, imenso. Um furacão. Fiquei paralisado e incrédulo diante de um quadro ao mesmo tempo fascinante e assustador. E vinha na nossa direção rapidamente, como quem quer nos transformar em notícia trágica. Imóveis ficamos fixados na imagem que, por milagre, se desviou rapidamente em direção a um clube náutico, à nossa esquerda, e logo a seguir se dissipou em direção ao céu.

Não foi uma visão, houve quem filmou, nós não tivemos esta disposição.

Que susto bem grande.

Estamos sendo assustados com frequência.

São várias as guerras que se travam ao longo deste mundo. E de todos os tipos. Aqui, temos a nossa. Estas constantes transformações climáticas

Como filme passou por nós a imagem de uma cidade arrasada e um estado abatido como um peão cansado quando as águas começaram a se acalmar.

De imediato, contudo, me assaltou a necessidade de buscar socorro no reerguimento que se viu a olhos vivos do RS, e desta capital.

Não fosse isto, neste lado Sul do país, a persistente credibilidade que o Gaúcho empresta ao setor de Seguros, muito certamente este reerguimento levaria muitas décadas, e, até lá, andaríamos cabisbaixos como um peão aborrecido, talvez com a chincha rachada.

Nunca o visionário Winston Churchil esteve tão realistamente presente por aqui:
“Se me fosse possível escreveria a palavra seguro no umbral de cada porta, na fronte de cada homem, tão convencido que estou de que o seguro pode, mediante um desembolso módico, livrar famílias de catástrofes irreparáveis”.

E é. Não fosse este setor nem sempre tratado com a merecida reverência muito peão estaria passando frio falando de lado e olhando pro chão.

Entre deuses e demônios neste solo frio, o guardião é um pássaro, instituído por Lei – 7.418 de 01.12.1980 – o Sentinela do Rio Grande, o quero-quero, o animal Símbolo um Cavalo, que Caramelo encarnou com dignidade e altivez, certamente um enviado dos deuses para coroar nossa luta e sustentar o sorriso do nosso peão, e o Seguro nosso Protetor.

Uma santíssima trindade gaudéria, que nos livra do mal.

Amém.

Crédito foto:

Divulgação

Crédito texto:

Carlos Josias Menna de Oliveira

Publicado por:

Picture of Helena Toniolo

Helena Toniolo